Engenheiros do Hawaii

 

A Promessa


Não vejo nada (o que eu vejo não me agrada)
Não ouço nada (o que eu ouço não diz nada)
Perdi a conta das pérolas e porcos que eu
cruzei pela estrada

Estou ligado à cabo a tudo que acaba de
acontecer

Propaganda é a arma do negócio
No nosso peito bate um alvo muito fácil
Mira à laser. Miragem de consumo
Latas e litros de paz teleguiada
Estou ligado à cabo a tudo que eles têm pra
oferecer

O céu é só uma promessa
Eu tenho pressa, vamos nessa direção
Atrás de um sol que nos aqueça
Minha cabeça não aguenta mais.

Tu me encontrastes de mãos vazias
E eu te encontrei na contramão
Na hora exata, na encruzilhada, na highway da
superinformação
Estamos tão ligados, já não temos o que temer

O céu é só uma promessa
Eu tenho pressa, vamos nessa direção
Atrás de um sol que nos aqueça
Minha cabeça não aguenta mais.



A Revolta dos Dândis I


Entre um rosto e um retrato
O real e o abstrato
Entre a loucura e a lucidez
Entre o uniforme e a nudez
Entre o fim do mundo e o fim do mês
Entre a verdade e o rock inglês
Entre os outros e vocês

Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão

Entre mortos e feridos
Entre gritos e gemidos
A mentira e a verdade
A solidão e a cidade
Entre um copo e outro da mesma bebida
Entre tantos corpos
Com a mesma ferida

Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão
Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão

Entre americanos e soviéticos
Gregos e troianos
Entra ano e sai ano
Sempre os mesmos planos
Entre a minha boca e a tua
Há tanto tempo, há tantos planos
Mas eu nunca sei pra onde vamos

Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão
Eu me sinto um estrangeiro
Passageiro de algum trem
Que não passa por aqui
Que não passa de ilusão




Armas Químicas E Poemas


Eu me lembro muito bem
Como se fosse amanhã
O sol nascendo sem saber
O que iria iluminar
Eu abri meu coração
Como se fosse um motor
E na hora de voltar
Sobravam peças pelo chão

Mesmo assim eu fui à luta
Eu quis pagar pra ver

Aonde leva essa loucura?
Qual é a lógica do sistema?
Onde estavam as armas químicas?
O que diziam os poemas?

Afinal de contas
O que nos trouxe até aqui?
Medo ou coragem?
Talvez nenhum dos dois!
Sopra vento um carro passa pela praça
E já foi...já foi!

Por acaso eu fui à luta
Eu quis pagar pra ver!

Aonde leva essa loucura?
Qual é a lógica do sistema?
Onde estavam as armas químicas?
O que diziam os poemas?

O tempo nos faz esquecer
o que nos trouxe até aqui
mas eu lembro muito bem como se fosse amanhã

Quem prometeu um descanso em paz
Pra depois dos comerciais
Quem ficou pedindo mais
Armas químicas e poemas



Eu Que Não Amo Você


Eu que não fumo queria um cigarro
Eu que não amo você
Envelheci dez anos ou mais nesse último mês
Senti saudade, vontade de voltar
Fazer a coisa certa: aqui é o meu lugar
Mas, sabe como é difícil encontrar
A palavra certa, a hora certa de voltar
A porta aberta, a hora certa de chegar

Eu que não fumo queria um cigarro
Eu que não amo você
Envelheci dez anos ou mais nesse último mês
Eu que não bebo pedi um conhaque pra enfrentar o inverno
Que entra pela porta que você deixou aberta ao sair
O certo é que eu dancei sem querer dançar
Agora já nem sei qual é o meu lugar
Dia e noite sem parar procurei sem encontrar
A palavra certa, a hora certa de voltar
A porta aberta, a hora certa de chegar

Eu que não fumo queria um cigarro
Eu que não amo você
Envelheci dez anos ou mais nesse último mês
Eu que não bebo pedi um conhaque pra enfrentar o inverno
Que entra pela porta que você deixou aberta ao sair




Infinita Highway



Você me faz correr demais
Os riscos desta highway
Você me faz correr atrás
Do horizonte desta highway
Ninguém por perto, silêncio no deserto,
Deserta highway
Estamos sós e nenhum de nós
Sabe exatamente onde vai parar

Mas não precisamos saber pra onde vamos
Nós só precisamos ir
Não queremos ter o que não temos
Nós só queremos viver
Sem motivos nem objetivos
Estamos vivos e isto é tudo
É sobretudo a lei
Dessa infinita highway

Quando eu vivia e morria na cidade
Eu não tinha nada, nada a temer
Mas eu tinha medo, medo desta estrada
Olhe só! Veja você
Quando eu vivia e morria na cidade
Eu tinha de tudo, tudo ao meu redor
Mas tudo que eu sentia era que algo me faltava
E, à noite, eu acordava banhado em suor

Não queremos lembrar o que esquecemos
Nós só queremos viver
Não queremos aprender o que já sabemos
Não queremos nem saber
Sem motivos, nem objetivos
Estamos vivos e é só
Só obedecemos a lei
Da infinita highway

Escute garota, o vento canta uma canção
Dessas que a gente nunca canta sem razão
Me diga, garota: "Será a estrada uma prisão?"
Eu acho que sim, você finge que não
Mas nem por isso ficaremos parados
Com a cabeça nas nuvens e os pés no chão
Tudo bem, garota, não adianta mesmo ser livre
Se tanta gente vive sem ter como viver

Estamos sós e nenhum de nós
Sabe onde quer chegar
Estamos vivos sem motivos
Mas que motivos temos pra estar?
Atrás de palavras escondidas
Nas entre linhas do horizonte
Desta highway(?) Silenciosa highway

"Eu vejo um horizonte trêmulo
Tenho os olhos úmidos"
"Eu posso estar completamente enganado
Posso estar correndo pro lado errado"
Mas "A dúvida é o preço da pureza"
É inútil ter certeza
Eu vejo as placas dizendo "Não corra"
"Não morra", "Não fume"
"Eu vejo as placas cortando o horizonte
Elas parecem facas de dois gumes"

Minha vida é tao confusa quanto a América Central
Por isso não me acuse de ser irracional
Escute garota, façamos um trato:
"Você desliga o telefone se eu ficar muito abstrato"
Eu posso ser um Bealte
Um beatnik, ou um bitolado
Mas eu não sou ator
Eu não tô à toa do teu lado
Por isso garota façamos um pacto:
"Não usar a highway pra causar impacto"

Cento e dez
Cento e vinte
Cento e sessenta
Só pra ver até quando
O motor aguenta
Na boca, em vez de um beijo,
Um chiclet de menta
E a sombra de um sorriso que eu deixei
Numa das curvas da highway




Nada Fácil


Neurotransmissores, míssseis na pressão
A vida em cada curva dispara o coração
Nada fácil cara, euforia e depressão
Muitas pedras no caminho,
Uma flor em cada mão

¡Tchau Radar!
Eu vou saltar!
Não é nada fácil cara,
Euforia e depressão
Muitas flores no caminho
E uma pedra em cada mão

Reza a lenda que agente nasceu pra ser feliz
Que o crime não compensa
E tudo conspira a favor
Reza a lenda que a noite é uma criança
Envolta da fogueira a tribo dança

Pra celebrar... e descerebrar

Neurotransmissores, mísseis na pressão
A vida em cada curva, no limiar da dor
Entre a vertigem de um cavalo alado
E o óleo diesel de um cavalo-vapor

Reza a lenda que agente nasceu pra ser feliz
Que o crime não compensa e tudo conspira a favor
Reza a lenda que a noite é uma criança
Em volta da fogueira a tribo dança

Pra celebrar... e descerebrar
Pra celebrar... e descerebrar

Reza a lenda que agente nasceu pra ser feliz
Que o crime não compensa e tudo conspira a favor
Reza a lenda que a noite é uma criança
Em volta da fogueira a tribo inteira

Quer celebrar... e descerebrar
Quer celebrar... e descerebrar
Quer celebrar... e descerebrar



Negro Amor


vá, se mande, junte tudo que você puder levar
ande, tudo que parece seu é bom que agarre já
seu filho feio e louco ficou só
chorando feito fogo à luz do sol
os alquimistas já estão no corredor
e não tem mais nada negro amor
a estrada é pra você e o jogo é a indecência
junte tudo que você conseguiu por coincidência
e o pintor de rua que anda só
desenha maluquice em seu lençol
sob seus pés o céu também rachou
e não tem mais nada negro amor
seus marinheiros mareados abandonam o mar
seus guerreiros desarmados não vão mais lutar
seu namorado já vai dando o fora
levando os cobertores? e agora?
até o tapete sem você voou
e não tem mais nada negro amor
as pedras do caminho deixe para trás
esqueça os mortos eles não levantam mais
o vagabundo esmola pela rua
vestindo a mesma roupa que foi sua
risque outro fósforo, outra vida, outra luz, outra cor
e não tem mais nada negro amor




O Papa é pop


Todo mundo tá revendo o que nunca foi visto
Todo mundo tá comprando os mais vendidos
É qualquer nota, qualquer notícia
Páginas em branco, fotos coloridas
Qualquer nova, qualquer notícia
Qualquer coisa que se mova é um alvo
E ninguém tá salvo.

Todo mundo tá relendo o que nunca foi lido
Tá na caras, tá na capa da revista
Qualquer nota, uma nota preta
Páginas em branco fotos coloridas
Qualquer rota, rotatividade
Qualquer coisa que se mova é um alvo...

E ninguém tá salvo
Um disparo, um estouro!!!

(refrão) O papa é pop, o papa é pop
O pop não poupa ninguém
O papa levou um tiro à queima roupa
O pop não poupa ninguém

Uma palavra na tua camiseta
O planeta na tua cama
Uma palavra escrita a lápis
Eternidades da semana
Qualquer coisa, quase nova
Qualquer coisa que se mova é um alvo
E ninguém tá salvo
Um disparo, um estouro
uuhauuu

O papa é pop, o papa é pop
O pop não poupa ninguém
O papa levou um tiro à queima roupa é
O pop não poupa ninguém

Toda catedral é populista
É pop, é macumba pra turista
Mas afinal o que é rock n' roll?
Os óculos do John, ou o olhar do Paul?

O papa é pop, o papa é pop
O pop não poupa ninguém
O papa levou um tiro à queima roupa
O pop não poupa ninguém

O papa é pop, o papa é pop
O pop não poupa ninguém
O papa levou um tiro à queima roupa
O pop não poupa, o pop não poupa
O pop não poupa
Ninguém.



O Preço

O preço que se paga as vezes é alto demais
É alta madrugada, já é tarde demais
Pra pedir perdão...
Pra fingir que não foi mal...

Uma luz se apaga no prédio em frente ao meu
"Sempre em frente" foi o conselho que ela me deu
Sem me avisar... que iria ficar pra trás

E agora eu pago os meus pecados
Por ter acreditado que só se vive uma vez
Eu pago os meus pecados
Por ter acreditado que só se vive uma vez
Pensei que era a liberdade
Mas na verdade eram as grades da prisão

O preço que se paga as vezes é alto demais
É alta madrugada já é tarde demais
Mais uma luz se apaga no prédio em frente ao meu
É a última janela iluminada
Nada de anormal
Amanhã ela vai voltar...

Enquanto isso eu pago meus pecados
Por ter acreditado que só se vive uma vez
Eu pago os meus pecados
Por ter acreditado que só se vive uma vez
Pensei que era a liberdade
Mas na verdade eu me enganei outra vez...

Eu pago os meus pecados
Por ter acreditado que só se vive uma vez
Eu pago os meus pecados
Por ter acreditado que só se vive uma vez
Pensei que era a liberdade
Mas na verdade era só solidão...



Pra Ser Sincero


Pra ser sincero eu não espero de você
Mais do que educação,
Beijo sem paixão,
Crime sem castigo,
Aperto de mãos,
Apenas bons amigos...

Pra ser sincero eu não espero que você
Minta
Não se sinta capaz de enganar
Quem não engana a si mesmo

Nós dois temos os mesmos defeitos
Sabemos tudo a nosso respeito
Somos suspeitos de um crime perfeito,
Mas crimes perfeitos não deixam suspeitos.

Pra ser sincero eu não espero de você
Mais do que educação,
Beijo sem paixão,
Crimes sem castigo,
Aperto de mãos,
Apenas bons amigos...

Pra ser sincero não espero que você
Me perdoe
Por ter perdido a calma
Por ter vendido a alma ao diabo

Um dia desses
Num desses encontros casuais
Talvez a gente se encontre
Talvez a gente encontre explicação

Um dia desses
Num desses encontros casuais
Talvez eu diga, minha amiga,
Pra ser sincero, prazer em vê-la
Até mais... (até mais)

Nós dois temos os mesmos defeitos
Sabemos tudo a nosso respeito
Somos suspeitos de um crime perfeito
Mas crimes perfeitos não deixam suspeitos.



Alívio Imediato


O melhor esconderijo, a maior escuridão
Já não servem de abrigo, já não dão proteção
A Libia bombardeada, a libido e o virus
O poder o pudor os lábios e o batom

O melhor esconderijo, a maior escuridão
Já não servem de abrigo, já não dão protecão
A Libia bombardeada, a libido e o virus
O poder o pudor os lábios e o batom

Que a chuva caia como uma luva
Um diluvio um delirio
Que a chuva traga alivio imediato
Que a noite caia de repente caia
tão demente quanto um raio
Que a noite traga alívio imediato

Há espaço pra todos ha um imenso vazio
Nesse espelho quebrado por alguém que partiu
A noite cai de alturas impossíveis
E quebra o silêncio e parte o coração

Ha um muro de concreto entre nossos lábios
Ha um muro de Berlin dentro de mim
Tudo se divide todos se separam
Duas Alemanhas duas Coreias
Tudo se divide todos se separam

Que a chuva caia como uma luva
Um dilúvio um delírio
Que a chuva traga alívio imediato
Que a noite caia de repente caia
tão demente quanto um raio
Que a noite traga alívio imediato

Todos se separam
Tudo se divide
Todos se separam

Que a chuva caia como uma luva
Um diluvio um delirio
Que a chuva traga - alívio
Que a noite caia de repente caia
tão demente quanto um raio
Que a noite traga - alívio


Era Um Garoto Que Como Eu Amava os Beatles e os Rolling Stones


Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones
Girava o mundo sempre a cantar as coisas lindas da América
Não era belo mas mesmo assim havia mil garotas a fim.
Cantava Help and Ticket to ride, oh! Lady Jane and Yesterday
Cantava viva à liberdade, mas uma carta sem esperar
Da sua guitarra o separou, fora chamado na América.
Stop! Com Rolling Stones, stop! com Beatles songs.
Mandado foi ao Vietnã, lutar com vietcongs.
Tatá-ratatá...

Era um garoto que como eu amava os Beatles e os Rolling Stones
Girava o mundo mas acabou, fazendo a guerra do Vietnã
Cabelos longos não usa mais, não toca a sua guitarra e sim
Um instrumento que sempre dá a mesma nota ra-tá-tá-tá
Não tem amigos, não vê garotas, só gente morta caída ao chão
Ao seu país não voltará, pois está morto no Vietnã.
Stop! Com Rolling Stones, stop! com Beatles songs
No peito um coração não há, mas duas medalhas sim.

Tatá-ratatá...
Ra-tá-tá-tá tá-tá