SAUDADE

SAUDADE

   Horas de Saudade

Tudo vem me lembrar que tu fugiste,
Tudo que me rodeia de ti fala.
Inda a almofada, em que pousaste a fronte
O teu perfume predileto exala.

No piano saudoso, à tua espera,
Dormem sono de morte as harmonias.
E a valsa entreaberta mostra a frase
A doce frase qu'inda há pouco lias.

As horas passam longas, sonolentas...
Desce a tarde no carro vaporoso...
D'Ave-Maria o sino, que soluça,
É por ti que soluça mais queixoso.

E não vens te sentar perto, bem perto
Nem derramas ao vento da tardinha,
A caçoula de notas rutilantes
Que tua alma entornava sobre a minha.

E, quando uma tristeza irresistível
Mais fundo cava-me um abismo n'alma,
Como a harpa de Davi teu riso santo
Meu acerbo sofrer já não acalma.

É que tudo me lembra que fugiste.
Tudo que me rodeia de ti fala...
Como o cristal da essência do oriente
Mesmo vazio a sândalo trescala.

No ramo curvo o ninho abandonado
Relembra o pipilar do passarinho.
Foi-se a festa de amores e de afagos...
Eras — ave do céu... minh'alma — o ninho!

Por onde trilhas — um perfume expande-se
Há ritmo e cadência no teu passo!
És como a estrela, que transpondo as sombras,
Deixa um rastro de luz no azul do espaço...

E teu rastro de amor guarda minh'alma,
Estrela que fugiste aos meus anelos!
Que levaste-me a vida entrelaçada
Na sombra sideral de teus cabelos!...


POESIA DE SAUDADE


Se fecho os meus olhos vejo-te com o coração
Ele sente a tua presença semeando notícias de ti
Nesta distância que nossos peitos enfrentam
Não queria escrever esta poesia de saudade

Em frases que voam para o céu que costumo olhar
Para não mentir á verdade que chamo teu nome
Em voz alta de silêncio para o luar que fala comigo
Sobre o meu querer estar a teu lado apaixonado

Entre nós vislumbra-se uma paisagem longínqua
Mas só nós dois percebemos esta ausência
E com toda a nossa paixão esperamos renascer
Das cinzas de amor tão difícil de sustentar

No espaço físico que separa as nossas bocas
Este poema será sempre um borrão de qualquer pena
Provavelmente esquecido num amanhã
Que ambos sonhamos com esperança viva

Acreditando que o destino baptize a nossa união
Num para sempre sem igual entre nós amantes
E o hoje triste será passado recordado com alegria
Sinto falta de te ouvir murmurar ao meu ouvido
Agora surdo sem tua voz


    COMO CURAR A SAUDADE


Tanto andamos com a saudade
Que o costume é mesmo assim,
De repente, se ela chega,
Sinto eu por ti e tu por mim.

Pra dissipar a saudade
Sei de um jeito bem legal
Venha correndo me ver
É essa a forma ideal.

Depois de um abraço forte
E um beijo fenomenal
Quem mais vai sentir saudade?
Esse é o jeito ideal!

Pra curar, volto a afirmar:
Saudade bateu no peito?
Só mesmo beijo e abraço,
Não existe melhor jeito!

Derrete vela de pedra,
O chamego desse encontro
Coração se acelerando
A gente fica até tonto.

Quem nunca sentiu saudade
É porque não amou ninguém.
De mansinho ela chega
Quando o nosso amor não vem…

É nos braços do meu bem
Que essa saudade desaba…
Saudade sempre é bonita,
Mas é melhor quando acaba!



SAUDADE DE UM AMIGO

Amigos, se estão distantes,
Nos dão tristeza e saudade...
Coração fica apertado,
Abala a nossa amizade.

Quando retornam, que luz!
Nosso coração se aquece,
Por ver que esse nosso amigo,
Demora, mas não esquece!

Um bom abraço e afinal
Em uma doce união,
Ideal mesmo é brindar,
E alegrar o coração!

Toda a saudade se esvai...
Boas vindas, num sorriso,
Amigo nunca se esquece;
Palavras? Nem é preciso!


Saudade


Tu és o cálix;
Eu, o orvalho!
Se me não vales,
Eu o que valho?

Eu se em ti caio
E me acolheste
Torno-me um raio
De luz celeste!

Tu és o collo
Onde me embalo,
E acho consolo,
Mimo e regalo:

A folha curva
Que se aljofara,
Não d'agoa turva,
Mas d'agoa clara!

Quando me passa
Essa existencia,
Que é toda graça,
Toda innocencia,

Além da raia
D'este horizonte—
Sem uma faia,
Sem uma fonte;

O passarinho
Não se consome
Mais no seu ninho
De frio e fome,

Se ella se ausenta,
A boa amiga,
Ah! que o sustenta
E que o abriga!

Sinto umas magoas
Que se confundem
Com as que as agoas
Do mar infundem!

E quem um dia
Passou os mares
É que avalia
Esses pezares!

Só quem lá anda
Sem achar onde
Sequer expanda
A dôr que esconde;

Longe do berço,
Morrendo á mingoa,
Paiz diverso...
Diversa lingoa...

Esse é que sabe
O meu tormento,
Mal se me acabe
Aquelle alento!

Ah, nuvem branca
Ah, nuvem d'oiro!
Ninguem me estanca
Amargo choro;

E assim que passes
Mesmo de largo...
Vê n'estas faces
Se ha pranto amargo.

Tu és o norte
Que me desvias
De ir dar á morte
Todos os dias;

A larga fita
Que d'alto monte
Cerca e limita
O horizonte!

Tu és a praia
Que eu sollicito!
Tu és a raia
D'este infinito!

Se ha uma gruta
Onde me esconda
Á força bruta
Que traz a onda;

Á força immensa
D'esta corrente
D'alma que pensa,
Alma que sente;

Se ha uma véla,
Se ha uma aragem,
Se ha uma estrella,
N'esta viagem...

É quem eu amo,
A quem adoro!
E por quem chamo!
E por quem choro!


Estar Assim, Assente na Saudade


Estar assim, assente na saudade,
com todo o peso repousando em si,
a prende à luz da sua antiguidade
parando na de aqui.

Concentra-se na sua densidade.
A tarde, à volta, ilustra no perfil
uma penumbra de profundidade
de onde o azul aviva a luz de Abril.

E a juventude adensa-se na tarde.
Agrava, ao lume duma paz antiga,
o modelado meditar. O ar de

estar ao centro de um amor que diga
quanto está perto da sua eternidade
este toque de luz na rapariga.



Olhos de Saudade

Vou de luar em rosto, descontente:
Meus olhos choram lágrimas de sal.
— Adeus, terras e moças do casal,
— Adeus, ó coração da minha gente.

A hora da saudade é uma serpente:
Quero falar, não posso, e antes que fale
Ela enlaça-me a voz tão cordial
Que as coisas mais me lembram fielmente.

Olhos de amora, e uma ave na garganta
Para enfeitiçar a alma quando canta,
Moças com sua parra de avental;

Graça, Beleza, um verso sem medida,
A Saudade desterrou-me a vida ...
Sou um eco perdido noutro vale.