DESILUSÃO

DESILUSÃO

Passarinho


O tempo da poesia passou
Tudo se calou
Sepultada no fundo dos túmulos
Inspiração chora
Versos insípidos
Sobre o mármore reluzente
Não se segura as mãos nas ruas
Não se anda abraçados
Flores murchas de datas marcadas
Secam nos cachepós
O cupido foi substituido
Por álcool e anabolizante
Vive-se pelo prazer momentâneo
Ninguém cultiva sentimentos
Estrelas vagam pelo céu
Abandonadas pelos enamorados
Riscos impossíveis de meteoros
Covas rasas nos jardins
Musas semidespidas malham nas academias
Sacrifícios em regimes de pílulas
Cortes em clínicas de emagrecimentos
Beliverantes desfiles de sexo nas areias
Torrando corpos suados e esquálidos
Esculturas de silicone e cêra
A lua dorme num colchão de nuvens poluidas
Enquanto a sexualidade da juventude
Explode em desespero infrutífero
Nos embalos das raves sepulcrais
E dos conglomerados funqueiros
Exposta aos ratos drogados
O tempo da poesia passou
Tudo se calou
A feminilidade humilhada
Pela selvageria da propaganda
Baixaria e pornografia
A violência pela violência
As moedas enferrujaram no lodo dos poços
Desejos perdidos nos fios de cobre dos telefones
Viradas culturais a federem urina e vômito
Conspurcadas por interesses políticos
O lirismo enxotado para a periferia
Longe das pirâmides de vidro e aço
O sol derrete as lajes de concreto
Faces de subúrbios descontruidos
Pelo suor e sofrimento repressor
Crianças enxarcadas de ódio e ganância
Carnaval de instintos reprimidos
Mausoléos da lúxuria e do ócio
Cavaleiros fantasmas em romaria
Empunham espadas de São Jorge
Contra imensos moinhos sanguinolentos
As rimas medíocres da degradação humana
Chamas corrompidas pelo comércio da alma
A queimar as estrofes perfeitas dos sonetos
O tempo da poesia passou
Tudo se calou
Promessas desfeitas
Laços rompidos
Corações partidos
Canções amargas


Vítima da Ilusão


Senda árdega que percorre esta minha vida,
Sempre no anelo de a felicidade conquistar;
Por que a dor de uma existência estarrecida,
Neste orbe areado que tanto me faz chorar?!
Ah! Se pudesse estaria ao Teu lado, Acestor!
Oferendar-Te-ia a minha vida como oblação,
Neste vale de lágrimas, neste mundo de dor;
Tu és para mim a primeira e única salvação.
Sei que o meu ser foi marcado pelo dissabor,
Amores fracassados! Quantos! Tudo em vão!
Hoje sou desafeto, ontem o confrade adjutor.
Esta é a minha láurea de enleada aceitação,
De que me serviu a vida na busca do amor!
Vítima deste fadário, império da desilusão.


O Caminho


Espremido na escuridão
De uma noite lacrimosa
Andar incerto numa direção
Nem flores nem montanhas
Ilusão sem saida
Aguas boas na boca
Percorro uma estrada sinuosa
De onde apenas se pode voltar
Até o fim das forças
Labirinto de emoções desencontradas
Rio de almas desesperadas
Margens úmidas
De tédio e paixão

Foi o Teu Maior Erro


Serpente venenosa que um dia,
Com o sibilar da tua cauda,
Me encantaste para, logo em seguida,
Penetrares nas minhas veias o teu suco mortífero.
Fizeste-me gritar de dor, deambular nas trevas,
Rastejar, já sem forças, até ficar moribunda.
Finalmente, imaginando-me morta
Pelo cansaço e pelo veneno, baixaste o cerco,
Planeando voltar mais tarde,
Para um faustoso banquete... Foi o teu maior erro!
Um anjo apareceu e me levou em seus braços
Para longe da morte sob o teu domínio.
Pensavas devorar-me, deliciar-te com a minha carne
Quando o teu desejo de sangue voltasse...
Foi o teu maior erro!

Calunia


Caluniastes meu o amor,
difamastes minha alma
Minha dor sentida em lágrimas
correu meu rosto pálido e gélido
Meu choro secou, minha alma emudeceu
não havia mais sentido
Caluniastes meu ser,
difamastes meu sonho e
minha felicidade
Que agora se perdeu
no fundo do pesadelo da tua calúnia
Caluniastes minhas palavras,
calaste-me o grito de dor sentida
Difamastes meu silêncio
com tua voz ecoante
Caluniastes meu ser que
se faz presente na solidão
Do amor perdido,
da vida vivida da morte sofrida
A minha face emudecida
pela calúnia esta carente
Transitas alheio aos meus sentimentos
e a minha vida
Amor, ódio, paixão,
saudade e piedade não existe
Estou nua de sentimentos
que jogastes tudo ao vento
Caluniastes meu corpo
que não mais te procura
Difamastes a flor
que dentro de minha alma vivia
Profanaste nosso amor
com a calúnia de uma paixão
Caluniastes eu e tu,
com tua loucura sem razão
Agora caminho indiferente,
mergulhada no silêncio sem lágrimas
Caminho em busca do nada e da escuridão